Simon Uribe, professor do programa de Gestão e Desenvolvimento Urbano da Universidade de Rosario em Colombia, falou sobre as práticas e processos de construção do Estado na Amazônia colombiana por meio de estradas e rodovias. Em épocas diferentes, essas infraestruturas foram sinônimos de apropriação de terras, violência racial, expropriação, desmatamento e extração, e dizimação de populações indígenas tradicionais, que ainda exigem respeito por seus territórios e modos de vida ancestrais. Por sua vez, têm sido parte central das demandas históricas e atuais de colonos, camponeses e habitantes urbanos por conectividade e integração com outros departamentos e regiões do país.
O trabalho de Simon é um relato histórico e etnográfico das estradas do Piedemonte (região andino-amazônica) desde os tempos coloniais. Os missionários capuchinhos construíram as primeiras estradas, a partir de trilhas utilizadas pelos indígenas e com mão-de-obra gratuita. Mais tarde, essas estradas foram usadas por exploradores de borracha e quinino. Posteriormente, o governo colombiano os utilizou como vias para promover a colonização a partir do início do século 20. O que andou de mãos dadas com uma visão da Academia nos anos 60 de promover uma expansão cultural por caminhos para a Amazônia. Essa visão da Amazônia como território de fronteira permanece até hoje nas narrativas de muitos atores-chave na promoção de projetos de infraestrutura rodoviária, como o governo central e bancos de desenvolvimento. Além disso, Simon também falou sobre a construção de estradas pelas FARC, mas a partir de uma abordagem local baseada nas necessidades da população para comercializar a coca.
Os participantes levantaram questões sobre as possibilidades existentes de mudança do modus operandi do estado e como esses territórios podem ser devidamente integrados e não vistos como a periferia de um estado centrado e localizado na Cordilheira dos Andes. Portanto, foi levantada a necessidade de uma governança de baixo para cima, onde a visão de desenvolvimento das populações locais seja levada em consideração. Sem considerar o contexto histórico dessas infraestruturas, bem como as necessidades locais, as medidas estaduais, como combate ao desmatamento e políticas de infraestrutura verde, terão impactos limitados. Além disso, foi discutido a possibilidade de generalizar as reflexões deste estudo a outros países andinos amazônicos, onde também existiram aspirações de conectividade, refletido em projetos como a Marginal de la Selva pelos Andes e suas múltiplas vias de penetração na planície amazônica